09 novembro, 2011

sobre crises e homens

Sinceramente não sei se crises existenciais, crises de relacionamento, crise com o corpo, crise com a idade, crise profissional, crise em ter crise é coisa de mulher, ou se homem também tem crise. Realmente acho que tem, ok, tenho certeza que tem. Mas eles são, no mínimo, mais silenciosos. E irritantemente leves.

Ah, tá, vai dizer que você nunca se descabelou, gritou, chorou, ameaçou pular da janela ao lado de um espécime masculino e a criatura respondeu da maneira mais irritantemente leve que você está exagerando, que isso passa, que deve ser só TPM... Será possível que eles não entendem que toda a minha vida está dependendo desse momento tortuoso que estou atravessando agora e que dele depende todo o resto da minha existência!?!? Será possível que eles não entendem que o fato do diretor não ter achado o meu roteiro o mais inacreditável do planeta, que eu ter ganho dois kilos,que eu ainda não ter sido premiada com o Jabuti, que eu ter feito 29, que eu ter feito 29 e ainda não conhecer a África, que eu ter feito 29 e estar com crise de personalidade... não é motivo suficiente para eu me acabar em lágrimas?! Eu acho que eles devem ter tipo um pacto monstruoso com seus próprios inconscientes.

Sim, porque eu acredito que eles devam sofrer de todo tipo de mazelas da alma, do espírito, do coração, mas são incapazes de demonstrar um só pingo de desespero. E ainda tratam o nosso desespero com tanta graça e com um carinho tão despretensioso nos cabelos que, por um momento, o desespero se multiplica automaticamente por um zilhão mais infinito.

“Como assssiiimmmm não é nada?!?!” “Não, não vai passar!!!”

Tá que, no momento seguinte, a gente até se desarma, quem sabe até ri do próprio exagero, às vezes, esse carinho basta para que 57% do desespero amenize... Mas vamo combinar?! Custa ser mais solidário, e entender que, se você está em crise é porque é muito sério?

Não, juro que não to sendo irônica. É sério mesmo. Eu, por exemplo, to passando por uma crise sem precedentes, to numa concha, com a vista embaçada e nem um marinheiro desfaria o nó da minha garganta. Mas Caio tem uma leveza que me desequilibra. Não sei se saio gritando, ou se desencano e vou jogar vídeo game. Ele tem uma maneira quase sombria de me olhar chorando, limpar minhas lágrimas, e dar o sorriso mais lindo do mundo. “Calma, flor...”. “eu.. eu... tooo, to, calllmaa.”

Eu tô calma. (não, não tô, sério). Mas a gente precisa de força pra sair de um buraco que a gente cai fundo vez ou outra. E se você também tem ao seu lado um pai, um marido, um amigo, um namorado, um amante, um porteiro, um colega de trabalho, um companheiro de academia, ou qualquer outra criatura da espécie humana, gênero masculino que ousa, só ousa, levar sua crise de maneira leve e bem humorada. Então meu bem, sorria, porque, talvez, esse seja o seu feijão de força pra ajudar a sair desse buraco. De forma independente, tá? Por favor.#


# tá, confesso que o meu “independente” inclui sessões de análise, mas, ninguém é de ferro, bein. E se Freud levou anos pra criar, por que a gente não deveria usufruir?

07 novembro, 2011

safadinha

Demorei para aceitar a ideia que meus conflitos eram comuns. Que minhas crises eram populares, até femininas, demais.

Teimava em achar que minhas crises existenciais diziam respeito a mim, minha consciência. Achava até que tinha uma personalidade...

Coisa de classe média quatrocentona paulistana, que teima em criar suas crianças como únicas e especiais. Cresci achando que eu era única e especial. Achando que todos os meus sonhos se realizariam, bastava persegui-los e desejar sinceramente.

Deviam educar esses pais para não fazerem isso com suas crias.

Deu que adulta, percebi que não funciona assim, e fiquei em crise. Pra perceber que até minha crise é mais comum do que meu ego gostaria.

Meu narcisismo foi ferido. Meu fracasso foi descortinado bem na minha cara. E meus sonhos estão mais esfumaçados que a Rebouças na hora do rush.

Aí eu lembrei que eu gosto de escrever (apesar de achar que até isso... enfim... até isso é óbvio). Mas lembrei também que em crises e conflitos anteriores eu escrevia um montão,(e deixava na gaveta). E não é que hoje eu me dei conta que, se por um lado meus conflitos são tão iguais aos de todo mundo, pelo menos ao falar deles, discuto junto, sem querer querendo, as crises de quem lê.

E não é que fazem isso há milênios?

Olha só, como é safadinha essa tal de escrita!